FINTECHS – PARA ONDE IREMOS?

João Victor Vieira Doreto

Ao longo do tempo, inúmeros setores já passaram por impensáveis modificações alavancadas por crises, e o sistema financeiro mundial não foi diferente. Esse setor, principalmente a partir do estouro da bolha imobiliária dos EUA em 2008, causada em função da crise do Subprime.

Buscando uma salvação econômica, o governo dos EUA realizou injeção histórica de capital na própria economia. Para que isso fosse possível foi preciso a criação de fortes regulações e penalidades no setor financeiro, visando tentar evitar novas crises como a que ocorreu. Dessa forma, os bancos estadunidenses começaram a ter que gastar muito nas novas adequações, deixando o investimento em inovações e novas tecnologias para segundo plano.

Nesse contexto, muitos empresários perceberam o gap no mercado e começaram a investir em tecnologias de baixo custo e flexíveis, juntando então a área financeira à tecnologia, fazendo com que o termo Fintech ficasse cada vez mais popular. A partir desse momento, o conceito começou a crescer cada vez mais e hoje está presente ao redor de todo o mundo, liderando os investimentos em negócios, sendo que em 2018, o volume de investimentos no setor chegou ao recorde histórico de US$40,8 bilhões de dólares, conforme divulgou o estudo feito pelo The Global Fintech Index 2020.

No Brasil o cenário não é diferente, de acordo com dados divulgados pelo Distrito Fintech Report 2020, desde o ano de 2015 já foram investidos mais de US$2,4 bilhões de dólares em Fintechs no país, sendo que o setor concentram cerca de 35,6% do capital investido em startups no ano de 2019, a frente de todos os outros. Grande parte desse crescimento também deve ser creditado a postura pró-inovação do BACEN nos últimos anos que possibilitou a regulação em áreas como meios de pagamento, crédito, crowdfunding e mais recentemente o PIX e Open Banking, incentivando assim o crescimento do ecossistema de fintechs no país, que passou de 53, em 2014, para 419, em 2018.

No início do movimento, as fintechs, principalmente pela alta regulamentação do setor, começaram atuando em segmentos muito específicos, aproveitando o máximo para inovar e oferecer serviços de qualidade. Esse movimento de pulverização de serviços financeiros entre diferentes empresas ficou conhecido como unbunbling, que significa justamente a fragmentação de serviços financeiros, o que para a época era muito incomum, visto que as instituições financeiras ofereciam sempre toda uma gama de serviços financeiros.

Dentre os serviços oferecidos pelas fintechs, os que mais tomam espaço dentro do mercado, segundo o Distrito Fintech Report 2020, são serviços de Meio de Pagamento, com cerca de 16,4% do mercado, Crédito, com 15,8%, serviços de Backoffice, com 15,1% e Risco e Compliance, com 9,2%. Vários outros serviços são oferecidos por outras empresas como, Criptomoedas, Serviços Digitais, Investimentos, Finanças Pessoais, Crowdfunding, entre outros.

Se durante os últimos anos já acompanhamos um crescimento muito acelerado no setor, com o Open Banking espera-se que a competição e a oferta de produtos e serviços financeiros cresça como nunca, encima de uma realidade na qual temos mais de 230 milhões de celulares e cerca de 180 milhões de computadores com acesso à internet no Brasil. O Open Banking é a regulamentação do Sistema Financeiro Aberto, projeto conduzido pelo Banco Central do Brasil, já em fase de implementação, que visa criar um fluxo aberto de dados bancários da população.

A proposta é que os dados cadastrais e dados relacionados às transações bancárias, com o consentimento do titular, sejam compartilhados entre instituições cadastradas no sistema de Open Banking do Banco Central, permitindo a elas acesso para que possam oferecem serviços cada vez mais competitivos e personalizados aos consumidores. O que se espera com o novo sistema financeiro aberto é o aumento da competição, com a respectiva redução das barreiras à entrada de novos players; aumento da inovação, gerando incentivo ao desenvolvimento de novos produtos/negócios com diferentes propostas de valor; e Maior inclusão financeira, a partir da oferta de produtos financeiros focalizados em segmentos mal servidos.

Esse é um breve cenário traçado para apresentar como surge o movimento das fintechs, que mundialmente crescem com muita força, transformando o modo como as pessoas lidam com suas finanças. Também apresentado um panorama geral de como o setor está posicionado no Brasil e quais são os serviços mais comuns que estão sendo oferecidos, ainda há muito para acontecer e é necessário acompanhar o desenvolvimento do setor no país, que vem sendo muito impulsionado pelo Banco Central, que mantem uma agenda forte de inovação para além do Open Banking, mas também com a criação do Arranjo de Pagamentos PIX, a regulamentação do Sandbox, o que ainda trará muitas novidades para o setor financeiro.