Ciência de dados – A aplicação na Advocacia
Cleiton Ambrósio Sanches
Aplicando-se a própria definição encontrada na Wikipedia, “a Ciência de Dados, ou Data Science, é uma área interdisciplinar voltada para o estudo e a análise de dados, estruturados ou não, que visa a extração de conhecimento ou insights para possíveis tomadas de decisão, de maneira similar à mineração de dados”, o data mining.
Dizer que é uma ciência interdisciplinar não é nenhum exagero, já que alia técnicas de várias outras áreas como estatística, economia, engenharia e computação.
Existente há 3 décadas, ganhou destaque nos últimos anos, após a popularização dos grandes bancos de dados, e do desenvolvimento de áreas como o aprendizado de máquinas (machine learning), e processamento de linguagem natural (PNL).
Com o acesso mais rápido e barato a um vasto universo de dados, estruturados ou não, e com a digitalization, expressão internacionalmente utilizada para a atividade de leitura e conversão de dados de uma fonte analógica (imagens, textos escaneados, áudios, vídeos, etc), para um formato digital, tornou-se fácil utilizar esses dados como insumos para obter resultados para os mais diversos fins, seja na analise de comportamento, criação de produtos, melhoria nos processos internos, ou para tomada de decisões.
Mas o que isso teria a ver com o Direito, com os escritórios ou departamentos jurídicos? Os profissionais do direito têm capacidade e são formados para atuar na solução de problemas da sociedade, no entanto, têm inseridos em seu dia a dia, diversas tarefas operacionais, leituras, pesquisas. A busca por dados ou estatísticas, reduz o tempo gasto efetivamente no exercício da advocacia em si.
Se otimizamos as tarefas com obtenção e análise rápida de dados, de forma a organizar e prever possíveis cenários e riscos, teremos subsídios que auxiliam as tomadas de decisão, dando suporte e segurança na gestão empresarial.
A advocacia, como tantas outras áreas, também trabalha em conjunto com outras ciências, como a administração, a econômica, a contabilidade, a estatística, e a computação. Na junção de todas essas ciências, surge mais uma figura: a Controladoria Jurídica.
A Controladoria Jurídica surge em um momento em que é crescente a preocupação com ineficiência do corpo jurídico, perda de prazos, falhas técnicas, relatórios atrasados, incompletos, irreais ou inexpressivos. Aliar profissionais voltados para as tarefas operacionais e controles, além do acesso ao cliente, e a Ciência de Dados, além de aprimorar e aumentar o resultado jurídico, garante melhoria nas entregas e segurança nas informações.
Grandes escritórios (e também os pequenos já se preparam para isso), estão hoje investindo de forma a aprimorar seus processos, implementando o uso de ERPs (do inglês Enterprise Resource Planning) jurídicos, Controladoria Jurídica, e ferramentas de processamento e análise de dados.
Mas, no dia a dia de um escritório de advocacia, há que se ponderar como todas essas ferramentas e profissionais trabalharão em conjunto. Faz-se mister definir premissas como: de onde vêm os dados, quem é responsável por alimentar e atualizar os dados, quem é responsável por tratar esses dados, quem é o consumidor desses dados, e qual a canal apropriado para o escoamento dessas informações.
Criando-se uma interface nas atuações do jurídico, da controladoria, e implementando análise de dados, poderíamos, por exemplo, ter dados de decisões sobre uma determinada matéria, em um determinado tribunal e vara, de um determinado magistrado, e assim, aprofundando nos detalhes. Já existem instituições que se utilizam dessas analises no contingenciamento do passivo, no direcionamento das defesas jurídicas, ou na proposição de acordos.
São muitas ciências e profissionais envolvidos para garantir a melhor qualidade dos dados que auxiliarão nas tomadas de decisão.
A advocacia hoje não trabalha em universo paralelo aos novos tempos. São novas ciências, novas ferramentas, novas carreiras e novos profissionais envolvidos no processo, toda uma nova gama de subsídios aos advogados de forma a garantir, além de segurança, suporte à produção jurídica de qualidade.
Então, temos aqui, uma ciência não tão nova, a Ciência de Dados, e uma área recém nomeada Controladoria Jurídica, que se integram ao corpo jurídico de forma essencial, cada qual com sua colaboração no cenário tanto dos escritórios advocatícios, quanto dos departamentos jurídicos.